domingo, abril 24, 2011

diligenciava saber

Emma, no quarto, compunha o vestuário; ele chegava, pé ante pé. Beijava-a pelas costas, ela soltava um grito.
Não podia abster-se de lhe tocar continuamente nas travessas, nos anéis do cabelo, nos lenços do pescoço; às vezes dava-lhe grandes beijos no rosto, com veemência, ou então era uma série de beijinhos ao longo do braço nú, desde as pontas dos dedos até às espáduas; e ela repelia-o, meio risonha, meio enfadada, como se faz a uma criança que se agarra a nós.
Antes de casar, Emma julgara sentir amor; mas como a ventura resultante desse amor não aparecia, por certo se enganara, segundo pensava. E diligenciava saber o que se entendia, ao certo, nesta vida, pelas palavras felicidade, paixão, embriaguez, que nos livros lhe tinham parecido tão belas.

em «Madame Bovary», Gustave Flaubert

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