- Então não sabe que há almas eternamente atormentadas? Necessitam alternadamente de sonho e de acção, das paixões mais puras, dos gozos mais intensos, e por isso se lançam em toda a espécie de fantasias, de loucuras.
Ela contemplou-o, então, como se contempla um viajante que passou por países extraordinários, e prosseguiu:
- Nós, pobres mulheres, nem sequer temos essa distracção!
- Triste distracção, porque não se encontra nela a ventura.
- Mas a ventura encontra-se acaso alguma vez? - perguntou.
- Decerto chega um dia em que se encontra - respondeu Rodolphe.
[..]
- Chega um dia - repetiu Rodolphe - um dia, subitamente e quando já se começava a desesperar. Abrem-se então horizontes, e ouve-se como que uma voz bradando: «Ei-lo!» Sente-se a necessidade de fazer a essa pessoa a confidência da nossa vida, de lhe consagrar tudo, de tudo lhe sacrificar! Não se explicam, adivinham-se. Encontraram-se ambos nos seus sonhos. (Assim falando, analisava-a).E afinal o tesouro que por tanto tempo se procurou está diante de nós, brilhando, resplandecendo. Contudo, duvida-se ainda, não nos atrevemos a acreditar; ficamos deslumbrados como se tivéssemos passado repentinamente das trevas para a luz.
em «Madame Bovary», Gustave Flaubert
sexta-feira, janeiro 21, 2011
almas eternamente atormentadas
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