De cada vez que nos teus braços
Por uns momentos morro,
Nos abismos de mim o meu amor pede socorro
Como se à força alguém lhe desatasse os laços.
De cada vez aprendo
Que fica em muito pouco, ou nada, aquele tanto
Que o querer ter promete, enquanto
Se não tendo.
Desejar é que é ter! mas não nos basta.
Sonhar é que é possuir sem tédio nem cansaços.
Sei-o, mas só já morto nos teus braços.
Sofre a carne de ter, ou de ser casta.
Sobre o desejo farto, a alma se debruça,
Contempla o nada a que o fartá-lo aponta.
E atrás do mesmo nada eis que ela mesma, tonta,
Vai, se a carne reacende a escaramuça.
José Régio
Poesia II, INCM
quinta-feira, janeiro 08, 2009
Sonhar é que é possuir sem tédio nem cansaços
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3 comentários:
Fizeste bem, recuperar este texto. Ele merece esse espaço bem aberto ;)
Mudando de poeta, mas ainda com um pé na Presença deixo-te um de Miguel Torga. Talvez gostes:
«Agora que o silêncio é um mar sem ondas
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti, como de mim.
Perde-se a vida, a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz, seria
Matar a sede com água salgada.
Miguel Torga
É muito bom! Já está encomendado para amanhã! :)
Podes continuar a ajudar-me no trabalho... :)
hb
rsrsrsrsrs
já agora, a fonte: Miguel Torga, Poesia Completa, Dom Quixote
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