terça-feira, dezembro 16, 2008

Deves ter achado que era demais e então acabou

Querida. Veio-me hoje uma vontade enorme de te amar. E então pensei: vou-te escrever.
Mas não te quero amar no tempo em que te lembro. Quero-te amar antes, muito antes. É quando o grande acontece. E não me digas diz lá porquê. Não sei. O que é grande acontece no eterno e o amor é assim, devias saber. Ama-se como se tem uma iluminação, deves ter ouvido. ou se bate forte com a cabeça. Pelo menos comigo foi assim. Ou como quando se dá uma conjunção de astros no infinito, deve vir nos livros.
Ou mais provavelmente esse tempo nunca pôde existir. Vou pensar melhor a ver se eu próprio entendo. Ponho-me a lembrar o que passou e o que me lembra é só a tua presença forte ao pé de mim. E depois acabou. Deves ter achado que era demais e então acabou. Foste para não sei onde e estás lá fixa quando te lembro...

em «Em nome da terra», Vergílio Ferreira

4 comentários:

Anónimo disse...

Ah... o Vergílio... muito gosto eu do Vergílio...
"Gostava de saber porque te amo nesta forma estranha de te não ter amado nunca."

Obrigada pelo belo excerto.

A.

hugo besteiro disse...

:)

Dele, só li o Manhã Submersa.

Mas este é, sem dúvida, um excelente primeiro parágrafo.

Anónimo disse...

O Manhã Submersa é excelente! Já o li há muitos anos e agora que penso nisso... acho que o vou "espreitar" novamente...
O último dele que li foi o Contos e adorei. Especialmente o conto intitulado Adeus... espreite e vai ver...

A.

Anónimo disse...

Hum!!! Este sim. Gostei muito, e abriu-me o apetite para a leitura de Vergílio.

Obrigada

AP