Eu vi a segadora. No seu campo labutando,
Caminhava apressada, segando e ceifando,
Negro esqueleto deixando o dia findar.
Na sombra onde tudo parece tremer e recuar,
O homem seguia com os olhos a foice fatal.
Tombava o vencedor sob o arco triunfal;
Ela tudo mudava: Babilónia em sono,
O trono em cadafalso, o cadafalso em trono,
As crianças em aves, em estrume os roseirais,
O outro em cinza, em rio os olhos maternais.
E as mulheres gritavam: - "Devolve o pequeno ser."
Para agora o levar, porquê deixá-lo nascer?
Pela terra se ouviam prantos lamentosos;
Nas infinitas mortalhas o vento frio soprava;
Diante da sombria foice, o povo lembrava
Um rebanho transido fugindo com temor;
Sob os seus pés, tudo era luto, noite, pavor.
Atrás dela, com a fronte reluzindo docemente,
Um anjo levava o molho de almas, sorridente.
Mors - Victor Hugo
Poemas, tradução de Manuela Parreira da Silva, edição Assírio e Alvim
terça-feira, dezembro 09, 2008
Morte
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1 comentário:
Li o teu post e aqui te deixo uma frase sobre a dita.
"A morte é a única das nossas obras que atinge a perfeição e é-nos vedado vê-la." @ Luís Sepúlveda
AP
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