sábado, janeiro 06, 2007

Aleixo, Poeta do Povo!

I
Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.

II
Após um dia tristonho,
de mágoas e agonias
vem outro alegre e risonho:
são assim todos os dias.

III
Uma mosca sem valor
poisa, c'o a mesma alegria,
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.

IV
Mentiu com habilidade,
fez quantas mentiras quis;
agora fala verdade,
ninguém crê no que ele diz.

V
Casado que arrasta a asa
à mulher deste e daquele,
merece que tenha em casa
outro homem em lugar dele.

VI
Não sei porque razão
certos homens ,a meu ver,
quanto mais pequenos são
maiores querem parecer.


VII
Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço.

VIII
O homem sonha acordado;
sonhando a vida percorre...
e desse sonho dourado
só acorda, quando morre!

IX
Quando um náufrago se estafa,
julga ver - triste ilusão!
- na rolha de uma garrafa
- a bóia de salvação!

X
Tanto da vida conheço,
que ao ver o mundo tão torto,
às vezes, quando adormeço,
desejava acordar morto.

XI
Só desejo dar um beijo
no rosto duma mulher,
se for maior o desejo
do que o beijo que eu lhe der.

XII
A quadra tem pouco espaço
mas eu fico satisfeito
quando numa quadra faço
alguma coisa de jeito.
António Aleixo

António Aleixo, o poeta do povo, sem instrução escolar, apenas sabia ler e escrever

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